Palavras de Despedida

Pois é, é isso aí. Não parece, mas está chegando ao fim. O blog também está chegando ao fim. Foram centenas de fotos, dezessete vídeos, quase uma centena de postagens, tudo isso durante apenas duas semanas – duas intensas semanas.

Mas agora, aqui estou eu, sentado no chão, no aeroporto de Roma, entre uma uma máquina de café e um cartaz da Lacoste. Daqui, é difícil contemplar que amanhã estaremos em Porto Alegre, ao lado daqueles que amamos, em casa, tomando um chocolate quente com a família.

Acredito que este é último post que escrevo neste Blog. Ainda tentarei, bli neder e bezrat Hashem, atualizar vocês em São Paulo, mas a correria e as preocupações aeroportuárias certamente não me permitirão escrever mais do que um punhado de palavras. Sei que não são meus longos e mal escritos textos que atraem os leitores deste Blog, mas o desejo de ver o brilho dos olhos e o sorriso dos rostos daqueles que amamos. Sem embargo, acredito que é adequado fazer uma despedida apropriada – afinal de contas ficamos juntos tanto tempo, sempre tão pertinho (apenas dez mil quilômetros de distância), tão íntimos, dividindo nosso choro e nossa alegria – que não podemos nos despedir sem dizer adeus. Chegou a hora de dizer adeus.

Amanhã não haverá mais Marcha, não haverá mais Blog, nem museus, abraços coletivos ou batata no café da manhã. Não haverá motivo para sentar na frente do computador com uma xícara de café ou uma bebida gelada para acompanhar, ansiosamente, as notícias da viagem aqui publicadas, buscando freneticamente com os olhos os rostos daqueles que amamos em meio a lindas paisagens que, ao lado dos autênticos sorrisos de nossos filhos, parecem tão sem graça quanto muros cinzentos.

Amanhã, porém, estaremos ainda mais juntos. Não haverá espaço no aeroporto para os abraços acumulados e reprimidos durante esses últimos dias. Não haverá palavras para a alegria do reencontro. Nem o cansaço da viagem nos tirará o prazer deste momento.

Por isso, aproveito esses últimos instantes para agradecer e me despedir: Obrigado a todos os que fizeram desse projeto um dos mais inovadores e bem sucedidos programas educacionais de nossa comunidade – coordenadores, professores, madrichim, pais e, principalmente, aos jovens tão especais que partilharam conosco estas duas semanas. Agradeço especialmente minha esposa, Débora, sem a qual não haveria blog, nem viagem, nem alegria. É ela a vela, o barco e âncora desta jornada, dividindo seu tempo entre a medicina, os filhos, a casa, o colégio, a sinagoga, para permitir-me o privilégio de participar desta viagem. Sem ela eu não estaria aqui (e certamente não sei onde estaria). 

Penso que voltamos da Marcha mudados, amadurecidos, mais conscientes de nossas responsabilidades e, principalmente, sabendo valorizar mais tudo que temos – nossa família, nossos amigos, nossa vida.

Acredito que, em médio prazo, a Marcha da Vida mudará o perfil de nossa comunidade, que contará com centenas de jovens adultos que experimentaram essa vivência tão transformadora. Parece uma ideia ingênua, utópica e otimista, mas acredito com firmeza que não se apagará dos corações e das mentes desses jovens tudo o que viram, sentiram e aprenderam durante essas duas semanas. Toda a história e a cultura de nosso povo, transmitida desde imemoráveis gerações. Toda a dor e a alegria, todo o conhecimento e toda a Torá. Tudo aquilo que nos compele a, com justiça, ter orgulho de sermos quem somos. Sei que saberão utilizar tudo o que aqui receberam para o bem de nossa comunidade, de nossa sociedade e do mundo. Sei que o que viram aqui os inspirará a construir um futuro melhor.

Obrigado a todos vocês que vieram com a gente para essa marcha. Nos vemos em casa.