segunda-feira, 8 de abril de 2013

Conhecendo Auschwitz e Birkenau

Hoje, além de participar da Marcha da Vida, fomos conhecer os campos e os museus de Auschwitz e Birkenau. Por todos os lados, evidências das brutalidades nazistas, provas de seus crimes. Documentamos, fotografamos e guardamos em nossa memória. Sapatos, cabelos, roupas, artigos religiosos e de higiene pessoal - todas as evidências da monstruosidade que aqui teve lugar.

A maneira como, metodicamente, tentaram desumanizar suas vítimas. Assustadoras quantidades de fotos, objetos pessoais a até mesmo cabelos das vítimas, usados pelos nazistas para confecção de tecidos. Cenas que provocam arrepios - uma janela para um período de trevas do qual somos agora testemunhas.

Não há nada no mundo que se compare a Auschwitz, onde um milhão e meio de judeus perderam suas vidas, mas não sem antes perderem seus nomes - trocados por números, seus cabelos - violentamente raspados, seus pertences pessoais - gananciosamente roubados, as fotos de seus pais e filhos - desprezadas por um inimigo que ignora tudo que é humano.

Mas não estávamos lá sozinhos. Gente do mundo inteiro estava aqui. O mundo voltou seus olhos para Auschwitz hoje e para tudo o que aconteceu.


Grupo de 40 jovens de Taiwan

Toneladas de Cabelos

Cabelos

Aqueles que para o campo vinham eram orientados a fazer uma mala com seus objetos antes de serem deportados. Deveriam colocar nas malas o que tinham de mais importante e essencial. Em suas malas roupas, fotos, Talitot, sidurim, objetos pessoais e de valor. Os nazistas mandaram escrever seus nomes e endereços para que as malas lhes fossem entregues quando chegassem ao campo. Vimos pilhas de malas, com nomes e endereços cuidadosamente escritos com esmerada caligrafia por famílias preocupadas em manter seus objetos mais íntimos, por mães e pais que queriam acreditar que suas coisas chegariam novamente a suas mãos.

Ali estavam essas malas, na nossa frente. Nelas vimos estampados nossos próprios nomes, nossos sobrenomes. Nomes de nossos amigos. Nomes de pessoas que não conhecemos e que jamais conheceremos.


Malas

Sapatos de Todos os Tamanhos e Cores

Fotos

Banheiros

Não há palavras em nenhum idioma humano que descreva Auschwitz. Hoje sentimos frio. A fina camada de neve que ainda cobria a grama e o tímido vento que soprava calmo, mas constante e insistente, nos mantinha sempre encolhidos. Nós, que estávamos duplamente agasalhados, caminhando por Auschwitz na primavera sentimos frio. Portanto a palavra frio, que descreve nossa sensação de hoje, certamente não é o termo que descreve a sensação de um prisioneiro obrigado a caminhar no inverno sobre a espessa neve calçando apenas um tamanco e vestindo um fino pijama de flanela. A palavra fome, que usamos nosso cotidiano, não descreve o que sentiam invariavelmente os que viveram neste inferno. Não temos palavras para explicar Auschwitz ou o que aconteceu aqui.

Fomos testemunhas oculares do processo de desumanização imposto metodicamente pelos nazistas. Chegavam ao campo e passavam por um processo de seleção – alguns eram condenados à morte, enquanto outros eram agraciados com uma provisória e frágil extensão da vida. Para os nazistas não era muito importante quem viveria: somente os números, as quantidades – o soldado já fazia questão de demonstrar sua indiferença para o homem sem rosto que desembarcava.

Aqueles que eram condenados a viver, passavam por um burocrático sistema, projetado para remover toda a humanidade dos que chegavam. Seus objetos pessoais, trazidos ingenuamente, na esperança de que poderiam comprar-lhe alguma vantagem, lhes eram tomados. Os de valor eram separados pelos nazistas. As fotos trazidas eram desprezadas e descartadas - suas memórias não tinham qualquer valor. Muitas vezes, tratava-se da última lembrança de um filho, de uma mãe, de uma esposa. Quem chegava era despojado de toda sua identidade individual.

Até mesmo o mais miserável mendigo, apesar do opróbrio, pode possuir um lenço, um livro, alguma sucata ou um guarda-chuva de segunda mão. Tudo isso era negado ao judeu. O único objeto que lhe era permitido possuir no campo: uma fina fatia de pão velho – apenas durante os cinco minutos em que esta ainda não havia sido vorazmente devorada. Todos nós temos objetos – que nos trazem recordações e refletem nossa personalidade – isso por que somos humanos.

O judeu então recebia um número e perdia seu nome. Todo homem tem um nome. Até mesmo animais de estimação, já que nos são queridos merecem ter um nome. Os animais domésticos são únicos, tem valor e por isso lhes damos nomes. Um nome que expressa quem somos. No campo não havia mais Moshe, Shmil, Sara ou Rebeca – passariam a ser tratados por números.

Seus cabelos então eram removidos. Os pelos de todo o corpo. Até mesmo um penteado, uma maneira de demonstrar sua individualidade, lhes era negado. Eram então vestidos com trapos esfarrapados, incapazes de proteger contra o frio, roupas que fariam um espantalho parecer elegante.

Dali saíam como zumbis. Se dissessem algo aos nazistas não seriam ouvidos. Se os ouvissem, não os perceberiam nem dariam qualquer atenção. Apenas um corpo magro com olhar vazio, lutando para manter viva na memória sua verdadeira identidade, seu nome, sua família.

Primo Levi, sobrevivente deste mesmo campo, escreveu um poema. Transcrevo abaixo suas palavras:



É isto um Homem? 

Vocês que vivem seguros
Em suas cálidas casas,
Vocês que, voltando à noite,
Encontram comida quente e rostos amigos,

Pensem bem se isto é um homem:
Que trabalha no meio do barro,
Que não conhece paz,
Que luta por um pedaço de pão,
Que morre por um sim ou por um não.

Pensem bem se isto é uma mulher:
Sem cabelos e sem nome,
Sem mais força para lembrar,
Vazios os olhos, frio o ventre,
Como um sapo no inverno.

Pensem que isto aconteceu:
Eu lhes mando estas palavras.
Gravem-na em seus corações,
Estando em casa, andando na rua,
Ao deitar, ao levantar;
Repitam-nas a seus filhos

8 comentários:

  1. Gurizada querida, estava lendo sobre os descendentes das vítimas do Holocausto que repetem tatuagens de Auschwitz, numa forma de homenagear seus entes queridos e impedir que o Holocausto seja esquecido. De outra forma, é exatamente o que vocês estão fazendo agora, trazendo uma tatuagem marcada no coração, para nunca esquecer e, definitivamente, passar adiante... Beijos no coração (tatuado) de cada um. Adriana

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  2. Tantas histórias e relatos, filmes e documentários que assistimos sobre as atrocidades de que foram vítimas os prisioneiros dos campos que vocês visitaram, mas não tinha idéia, até ler o texto do Daniel, de como o entendimento se modifica quando passo a perceber o quão próximo, através do Marco, estou dessa realidade histórica. Impedir que se repitam fatos assim deve ser o compromisso de cada um, mesmo que distantes, basta ter amor e respeito a todos, indistintamente.

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  3. Queridos FILHOS: Rodrigo e amigos pra lá de especiais que desde pequenos frequentam nossa casa e que também sinto como um pouco meus filhos: Quanta emoção! Quanta saudade!É lindo vê-los participando juntos, unidos como sempre foram, de um momento tão marcante, único em sentimento e grandiosidade,juntamente também com toda turma de colegas, morim, e rabino Daniel.Esta vivência vai agregar muito ao ser humano e cidadão que cada um de vocês já é.Com certeza devem estar todos cansados física e emocionalmente, então alimentem-se bem (tá, Rodrigo?), agasalhem-se bem (aí já é pedir muito, né Rodrigo?)e lembrem-se que em Israel é só alegria!Um abraço carinhoso a todos;beijos para Gabi,Celo,De,Binho,Fi,Alex,Chumbo,João,Dani,Dudsker, um beijão Rodrigo! Te amamos muito! Estamos com saudade!Desculpa o “mico" mas não deu pra resistir... Mãe, Pai, Laura e Gui ( ...e o Trovão tb)

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  4. Hoje fizemos um minuto de silêncio aqui no colégio e lembrei de vocês, aí, marchando. Para mim foi uma experiência inesquecível, acredito que esteja sendo assim para vocês também. Nesses momentos só consigo pensar em uma coisa, valorizar, valorizar a vida, as pessoas e as coisas que acontecem a cada dia. Valorizem essa experiência. Valorizem a amizade e o carinho dos amigos. Valorizem a preocupação dos pais. Valorizem a felicidade em primeiro lugar. E teimo em dizer que amo vocês. Muito. Continuem essa jornada por aí... que por aqui continuaremos marchando. Aproveitem cada segundo. Beijos cheios de saudades. Ex- madrichá Sofia :)

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  5. Querida família Sprinz, nosso sentimento em relação ao Ro e aos guris é o mesmo. Como já disse espero que eles sejam amigos para sempre. Certamente estes momentos que estão passando juntos e também com todos colegas, professores, madrichim, Rabino Daniel, ficará prá sempre na memória e na vida deles. Gabi, curte muito tudo que estás vivendo aí e que todo esse horror que vocês estão vendo sirva para que nunca mais aconteça algo parecido, com nenhum povo. Beijos mãe, pai e Dé.

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  6. "Pensem que isto aconteceu:
    Eu lhes mando estas palavras.
    Gravem-na em seus corações,
    Estando em casa, andando na rua,
    Ao deitar, ao levantar;
    Repitam-nas a seus filhos"

    É esta mensagem que move o Fundo Comunitário RS, razão do trabalho que estamos desenvolvendo junto ao CIB.
    Como disse a Adriana em sua mensagem acima: "uma tatuagem marcada no coração, para nunca esquecer e, definitivamente, passar adiante... "
    Abraços Sheila Maltz Schul

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    1. PArabéns Sheila, Lisete e demais chaverim do Fundo Comunitário de POA por propiciarem esta experiência inesquecível...
      Fico feliz de ver germinar cada vez mais a semente que plantamos juntos em 2009!
      Abraços
      Celso

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  7. Queridos marchantes do Israelita!

    SIM..vocês foram testemunhas do que a barbárie do homem foi capaz de fazer...construiu este complexo da morte que vocês viram com os próprios olhos!E nada se iguala a ele no mundo!

    Vocês sairam daí com o compromisso de serem seres humanos dignos, judeus orgulhosos e compromissados em evitar que isto se repita com qualquer ser humano, independente de cor, raça, sexo, religião!

    Parabéns a todos que permitiram isto a vocês!

    Grande abraço

    PRof Celso Zilbovicius
    Diretor Educacional
    Marcha da Vida Universitários
    Fundo Comunitário São Paulo

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